Monthly Archives: Novembro 2011

O “hit” do momento

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 “Danza, Kuduro”, com trechos em português, é o “hit” do momento aqui na Alemanha. Escutei pela primeira vez no carro do meu “irmão” alemão (da época que fui intercambista em Bremen) e levei um susto quando escutei o refrão sem ver como se escrevia o nome da música… Já podem imaginar o por quê.

Bem… esse post não precisa de muitas palavras. O vídeo fala por si só.

P.S.: O cantor se chama Don Omar e é portorriquenho.

Vovô na balada

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Esse fim de semana eu resolvi largar o espírito de velha, passar uma maquiagem na cara e cair na balada com umas colegas do estágio.Ir à balada na Alemanha é uma experiência à parte e com certeza renderia assunto pra um mês inteiro de aulas de comunicação intercultural, dada a quase total ausência de interação entre as pessoas.

Eu já sabia que o local era frequentado por um público um pouco mais velho (de 30 a 40 anos) e já estava esperando encontrar todos os solteirões bonitões da cidade por lá. Realmente nunca tinha visto tanto homem bonito reunido num único lugar. Fato. 

Mas entre os solteirões charmosos vi, num relance, uma figura inusitada. Um senhor de cabelos totalmente brancos, beirando seus 70 anos, estava na pista requebrando as “cadeiras” até o chão. Não acreditei. Olhei de novo com atenção e o observei por uns minutos enquanto apreciava meu vinho gelado.

Imagine seu avô, com roupinha de avô (nada de modelito “quero ser jovem”), na balada com você às 2 da manhã. Foi assim que me senti. E o cara não estava nem aí “pra hora do Brasil”. Dançava, ria e interagia com completos estranhos, algo totalmente incomum para alemães em uma balada. Achei demais!  Viva a alteridade!

Tirando esse episódio, a balada foi bem morna, como de praxe. Cada um dançando pra si mesmo ou dentro do seu grupinho (interação com estranhos, nem pensar); a música variando entre o “putz, putz” e o “puuuutz, puuuuuutz”; todo mundo fumando como chaminé em época de Natal; todas as mulheres impecáveis de lindas, sem um único borrão na maquiagem mesmo após dançar fervorosamente (tenho que descobrir qual é o segredo); e os bonitões, bem… os bonitões continuaram lindos e intocáveis pra mim, que sou tímida. Explico-me: aqui na Alemanha quem dá o primeiro passo é a mulher – péssima notícia pra mim, que sou um zero à esquerda na arte da paquera.

“O” estágio

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Prédio da ONU

Eu costumo dizer que estou realizando dois dos meus maiores sonhos de uma vez. Sim, eu realmente sou uma pessoa privilegiada (não que tudo isso tenha vindo sem muito esforço, que fique claro). Pouco após receber a carta de aceitação do mestrado dos meus sonhos (após me candidatar por três anos consecutivos), me inscrevi pro estágio dos meus sonhos: no departamento de comunicação de uma das agências da ONU.

Todo mundo me pergunta como eu consegui e sempre se decepciona com a resposta, que não tem nada de épica. Explicarei e você também ficará decepcionado: eu entrei no site da United Nations Volunteers ( cuja matriz eu já sabia que ficava em Bonn), cliquei em “internships” (estágios) e após ler as duas opções de estágio disponíveis, mandei um e-mail acompanhado do meu currículo pro endereço de e-mail que constava na descrição do projeto que mais me agradou – a campanha de comemoração de 10 anos do Dia Internacional do Voluntário (IYV+10). Pronto, pode dizer seu “ah, só isso?”.

Achei que nem ia dar em nada, mas recebi uma resposta da diretora do projeto me pedindo pra mandar novamente o e-mail e o currículo em inglês (tinha mandado em alemão. Ops!). Mandei. Depois de mais alguns e-mails, finalmente o chefe de comunicação do projeto marcou uma entrevista comigo por telefone.

Numa manhã qualquer durante a semana recebi uma ligação de dois atuais colegas, que me bombardearam de perguntas por meia hora. Veja bem: era uma ligação internacional com o telefone no viva-voz, ou seja, qualidade zero, e o sotaque dos entrevistadores não estava ajudando. Eu, que havia lido em alemão a manhã inteira, não conseguia falar uma única frase decente em inglês e, ainda por cima, tive que comunicá-los que só poderia trabalhar meio período, por conta da carga horária do mestrado. Achei que minha chance de conseguir o tão sonhado estágio na ONU tinha ido pelo ralo. Mas, como vocês podem ver, eu estava mesmo com a “bunda virada pra lua” naquele mês, como diz uma amiga minha.

Não, não ganho um único centavo (o estágio não é remunerado). E sim, vale a pena mesmo assim! Eu dei a sorte de ter um chefe ótimo que, desde que eu entrei, me dá liberdade pra sugerir coisas novas e trabalhar realmente com comunicação. Isso quer dizer que eu não fico tirando xerox, fazendo cross-checking de listas de endereços ou preparando power-points.

Vista da minha sala, no alto do 24º andar, no prédio da ONU

Espontaneamente fui assumindo as mídias sociais da campanha e, conforme os números iam subindo, minhas sugestões e opiniões foram ganhando cada vez mais peso. Depois comecei a fazer as newsletters e hoje meu trabalho lá se resume basicamente às duas atividades: social media e newsletters.

Tem sido um tanto cansativo sair do mestrado às 16h e, depois de um longo dia de aulas em alemão e inglês (às vezes em Denglish, como diz a Francis França), ainda ir pro estágio por mais 3 ou 4 horas. Mas trabalhar com gente do mundo inteiro, ver como uma organização internacional desse porte funciona por dentro, ter acesso a todo esse conteúdo e ser reconhecida pelos meus chefes e colegas pelo que eu faço faz todo esse esforço valer a pena!

E de repente, eu que não tinha uma conta pessoal no twitter até um tempo atrás e não sabia nem o que era um RT antes de entrar no Brasil Alemanha News, já até sonho com posts e campanhas no twitter e facebook. People definitely change!

Claro que o frio, o cansaço e os primeiros resfriados desse “inverno” continuam me fazendo torcer pra 23 de dezembro (meu último dia de estágio) chegar logo. Afinal, rapadura é doce, mas não é mole e a gente bem sabe.

“O” mestrado

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Deutsche Welle

O mestrado que eu estou fazendo é um pouco diferente dos outros oferecidos aqui na Alemanha. Ele foi montado pela Deutsche Welle – DW (emissora internacional da Alemanha) em parceria com a Universidade de Ciências Aplicadas “Bonn-Rhein-Sieg” e com a Universidade de Bonn com o objetivo de formar jornalistas internacionais e gestores de mídia. Ao final do programa, além do diploma de Master of Arts, os estudantes também recebem o título de jornalista internacional, por isso a carga de aulas e projetos práticos é bem pesada, principalmente a partir do segundo semestre.

O curso de International Media Studies (Estudos de Mídia Internacional) é integral, bilíngue e dura ao todo quatro semestres. A DW concede somente 10 bolsas ao ano para estudantes de países em desenvolvimento e algumas bolsas parciais para candidatos de outras partes do mundo. Para ser elegível o candidato precisa ter alemão e inglês fluentes, experiência de pelo menos um ano na área de mídia e bons argumentos para convencer a banca de jurados, que inclui membros das duas faculdades e do DAAD (Serviço de Intercâmbio Acadêmico Alemão). Somente do Brasil, eles recebem, em  média, 400 inscrições por ano, por isso, o páreo é duríssimo e todos os requisitos são mesmo cobrados.

Mestrado em International Media Studies, turma 2011/2013, na abertura oficial do programa.

Essa é a terceira turma do curso e também a maior até agora. Somos 30 estudantes de 25 países. Somente dois colegas são 100% alemães, sendo que um deles nasceu e cresceu no Paraguai. Depois, temos algumas misturas (metade americano, metade alemão; metade brasileira, metade alemã; metade mexicana, metade alemã) e os 100% estrangeiros. São profissionais de diversos países da África, como Serra Leão e Camarões; leste europeu, como Romênia e Polônia; Oriente Médio, como Iraque e Jordânia; Ásia, como Camboja e Indonésia; e América Latina, como Equador e Bolívia. Todos com experiências das mais diversas: rádio, televisão, jornalismo online, marketing, ONGs, educação, etc.  As discussões, portanto, são muito ricas e, quase sempre, acaloradas. Todo mundo tem sempre muito a dizer.

O curso é excelente. O programa combina tópicos como “Media Economics”, comunicação intercultural, globalização e mídia, política e mídia, sistemas internacionais de mídia, comunicação para o desenvolvimento e afins. As aulas são puxadas, mas riquíssimas em conteúdo. Às vezes tenho a sensação de ter aprendido mais em três meses de mestrado do que nos quatro anos do meu bacharelado no Brasil, que por ter sido feito numa faculdade pública “deveria” ter sido da melhor qualidade.

Um dia de aula prática no IMS - Técnicas de Apresentação na aula de "Media Education and Training"

Além disso, temos muitas atividades extra-curriculares, como encontros com a Ministra da Cultura do Estado (aqui cada estado tem seus próprios ministérios para cada pasta, além dos ministérios federais), com os diretores da maior editora do Estado (que é dona de 8 jornais) e com profissionais de grandes emissoras de TV da região.

Naturalmente o curso também tem suas deficiências, afinal, ele é ainda muito novo.  Mas isso é história pra outro post…

Por enquanto resta dizer que, se eu sobreviver a esse ritmo frenético de aulas todos os dias o dia todo, me formo mestre em agosto de 2013. Inshalá!

A arte de ser invisível

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Toqa Hilal de pijamas nas ruas de Bonn

Há algum tempo li no livro de João Ubaldo (Um Brasileiro em Berlim – recomendo!) que na Alemanha era possível ser invisível uma vida toda. Nunca tinha parado pra pensar nisso antes. Fiquei tentando me lembrar de situações semelhantes que eu mesma tinha vivido, mas nada específico me veio à memória.

Essa semana, fazendo um projeto de TV pro mestrado, eu e duas colegas viemos gravar umas cenas aqui em casa  no meu quartinho. A história era de uma estudante que acorda atrasada, atordoada, veste o casaco por cima do pijama e vai pra faculdade do jeito que está. Como as cenas seguintes teriam que ser gravadas perto da Deutsche Welle e estávamos atrasadas, a colega da Jordânia (que fez papel de protagonista) resolveu ir do jeito que estava (de pijama branco com bolinhas pretas e ursinho, bota e casaco!!!!) pra poupar tempo. Veja bem, da minha Wohnheim (moradia estudantil) até a Deutsche Welle (onde estudamos), é preciso pegar dois ônibus ou um ônibus e um metrô.

Chegamos ao ponto de ônibus e ninguém olhou esquisito. Tiramos fotos, demos risada e nenhuma reação. Entramos no ônibus  e nem a velhinha que estava sentada de frente pra gente ficou olhando. Descemos na estação central, esperamos pelo outro ônibus e nenhuma reação. Perto da Deutsche Welle rodamos umas cenas da colega montada numa bicicleta, num farol (de pijama!), escovando os dentes. Um ou outro olhou, mas nenhum curioso parou ou se aproximou.

Quando chegamos na sala de edição esperei uns 5 minutos pra ver se o instrutor do projeto falava alguma coisa. Nada. Fiquei passada. Constatei a teoria de João Ubaldo na pele.

Definitivamente na Alemanha é possível ser invisível.

Aqui está o resultado do trabalho. Considerem que esse era só um treino pra galera que nunca teve contato com a câmera e softwares de edição na vida (que não é o meu caso, mas o das minhas colegas), então é bem amador.

http://www.youtube.com/watch?v=PfXVUUMSXrs