Desvendando o mundo árabe

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Hoje é aniversário de uma da minhas mais queridas amigas daqui. Ibtisam é egípcia, ex-jornalista da Agência Alemã de Notícias (dpa) e muçulmana. Com ela tenho aprendido a cada dia uma porção de coisas que eu totalmente ignorava sobre  os costumes, a política e, principalmente, a religião no mundo árabe. Ela é a primeira ámiga árabe e muçulmana que eu já tive na vida e tem sido uma delícia descobrir a região através dos olhos dela.

Ibtisam e eu em Brugge, Bélgica. 2011

Ibitsam estava no Egito durante as revoluções contra o regime Mubarak e é interessantíssimo conversar com ela sobre esse período e seus desdobramentos. Mesmo sendo muçulmana, ela é contrária à ideia de o partido islã governar o Egito. Ela argumenta que com tantos extremistas religiosos é perigoso permitir que um partido assumidamente muçulmano suba ao poder. “As pessoas precisam separar política de religião”, ela me disse quando conversamos sobre o assunto.

Viajamos juntas para a Bélgica há duas semanas e foi tocante ver sua relação com a fé. 5 vezes ao dia ela pára o que está fazendo para fazer suas preces. Quando passa o dia fora, as preces se acumulam e ela as faz de uma só vez. Sem titubear. Uma noite entrei no quarto e ela estava lavando os pés na pia. Eu ri. Ela riu também e me explicou que antes de rezar ela precisa lavar as mãos, a boca, o nariz, o rosto, os braços, as orelhas, a garganta, os cabelos (pode ser só jogar um pouquinho de água), os pés e novamente as mãos, exatamente nessa ordem.  Ela não se importa que outras pessoas fiquem no mesmo local e até conversem enquanto ela faz suas preces. Mas, por respeito, sempre acompanho em silêncio seu ato de fé e admiro.

Aos 31 anos, Ibitsam nunca teve um namorado e cobre seus cabelos e todo o seu corpo quando está entre homens. Vestir camisetas de manga comprida e lenço, mesmo em dias de muito calor, não é motivo para reclamação. Casamentos arranjados são vistos com naturalidade porque pra ela o amor é algo que se constrói e não precisa, necessariamente, existir desde o começo. Ela diz que se o sujeito for uma companhia agradável já é um bom começo. Nós duas rimos. Ela já recusou alguns “pretendentes” e confessa que sua família se preocupa com o fato de ela não ter arranjado um marido ainda.

Ontem, conversando sobre nossos planos de Natal, ela me disse que eles também acreditam em Jesus e em Maria, só têm uma perspectiva um pouco diferente. Fiquei espantada. Ela riu. Cada dia, uma lição.

Antes de conhecê-la, a primeira coisa que vinha a minha cabeça ao pensar em islamismo era, infelizmente e muito injustamente, o terrorismo. Conversando sobre homens muçulmanos durante a viagem brinquei que se eu aparecesse em casa dizendo que estava namorando um, provavelmente a primeira coisa que todo mundo ia pensar é que eu estou namorando um terrorista. Caímos na risada!

Nunca tinha parado pra pensar na possibilidade de me apaixonar por um muçulmano. Mas é preciso lembrar que há muitos deles em países da Ásia e da África e, vivendo num ambiente tão intercultural quanto esse, isso pode sim acontecer.

Realmente a gente sabe muito pouco sobre o mundo lá fora… e ainda há muito mais a aprender.

P.S.: Feliz Aniversário, liebe Ibtisam. Alles Gute und Liebe zu deinem ersten Geburtstag in Deutschland wünsche ich dir von ganzem Herzen! (Eu sei que ela vai tentar ler o post inteiro com ajuda do google-translator, então tô facilitando a última parte.hihi)

Uma resposta »

  1. Ka, eu saboreio cada um dos seus posts! rs Eu tive boas e não tão boas experiências com muçulmanos. A maioria dos que conheci eram sauditas filhos de principes milionários, que foram estudar no Canadá com tuition, aluguel, alimentacao, seguro saude e mais uma módica bolsa de estudos de 5 mil dólares por estudante pagas pelo governo. Engraçado como as perspectivas mais ricas também obtive de mulheres. Conheci uma moça uma vez que me disse que na Arábia Saudita as adolescentes só namoravam quase que exclusivamente pelo MSN, pois, ver um rapaz, estar com ele, nem pensar. Os homens, por outro lado, era quase que mandatório para eles experimentar tudo o que não prestasse (drogas e prostitutas incluso) antes de se casarem. E também me pareceram bastante arrogantes e preocupados apenas em enriquecer cada dia mais um pouco, talvez porque no mundo deles família e linhagens nobres ainda são coisas importantes a serem preservadas. :-). Ótimo natal pra ti, criatura! Não se sinta sozinha, tem muita gente que gosta de vc do lado de cá.

    • Dani, amo cada um dos seus comentários! Brigada! Você ia adorar conversar com a Ibtisam. Ela realmente fala que os sauditas são uma praga. Eles acham que tudo se compra com o dinheiro, o governo dá bolsa pra quem quer estudar fora e eles fazem tudo direitinho no país deles e vão pra outros países pra experimentar esse de tudo um pouco. Eles antes iam pro Egito procurar prostitutas e achavam que podiam ter qualquer mulher que passasse na rua. Agora vão pra Tailândia enganar mocinhas, casar com elas lá, engravidá-las e deixá-las por lá a ver navios. Ótimo Natal pra vc, querido! E uma ótima entrada em 2012! Beijo e obrigada pelo carinho!

  2. Kaká, tb curto mto seus posts, leio todos, e indico, mas esse foi realmente fantástico. Fiquei curiosa para saber mais sobre sua amiga!
    Bjo minha linda

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